
A origem da capoeira nos remete à escravidão brasileira, pois ela foi gerada como elemento de resistência, física e cultural, dos negros cativos à opressão e violência sofridos nesta época.
Segundo Mestre Pastinha apud Fontoura e Guimarães (1988, p. 28), relata que os negros africanos, no Brasil colônia, eram escravos e nessa condição tão desumana não lhes era permitido o uso de qualquer arma ou prática de meios de defesa pessoal que viessem pôr em risco a segurança de seus senhores.
Em 1890 a capoeira foi considerada “fora da lei” pelo antigo Código Penal da República. No capítulo que tratava dos vadios e capoeiras, o artigo 402 trazia a penalidade de dois a seis meses de prisão a quem ousasse fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal (REGO, 1968, apud FONTOURA E GUIMARÃES, 2002; MELLO,2000).
Em 1937, através de um documento expedido pela Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública do Estado da Bahia, Mestre Bimba conseguiu uma autorização para ensinar capoeira no seu Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia, caindo por terra o decreto que proibia a prática da capoeira.
No que diz respeito a prática da capoeira os angoleiros, guardiões das tradições, alegam que mestre Bimba descaracterizou a capoeira, “embranquecendo-a”. A capoeira de Angola vale-se mais da astúcia do que da força muscular, um famoso angoleiro, sobre isso mestre Moraes aponta: “nossos movimentos não têm pressa de chegar, mas quando chegam é de forma harmoniosa. É um diálogo de corpos, eu venço quando o meu parceiro não tem mais respostas para as minhas perguntas” (VIEIRA, 1997 apud MELLO, 2000 p.6).
Na capoeira de Angola o mais ilustre representante foi Vicente Ferreira Pastinha (1889/1981). Que no seu livro Capoeira Angola de 1964, afirma “... a capoeira angola se assemelha a uma dança graciosa em que a ginga maliciosa mostra a extraordinária flexibilidade dos capoeiristas. Mas, capoeira angola é, antes de tudo, luta e luta violenta" (MELLO, 2000 p.6).
Já os defensores da capoeira regional alegam que a capoeira de Angola foi superada em sua eficiência combativa, sendo preciso recuperar a sua característica de luta. Nesse sentido, a capoeira regional adotou movimentos mais eficientes, e sobre isso Fontoura e Guimarães (2002) e Mello (2000) citam mestre Bimba, seu criador, afirma: “[...] criei completa, a Regional, que é o batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”.
Na verdade a capoeira é uma só. Devemos compreender essas diferenças entre Angola e Regional como conseqüência de um período histórico em que o contexto e as influências sociais foram determinantes para que elas ocorressem, uma vertente não anula a outra nem tampouco a ela se sobrepõe, ambas se complementam, formando o universo simbólico e motor da capoeira.
Em relação à apresentação para Getúlio Vargas no ano de 1953, Mestre Bimba ouviu deste presidente a seguinte afirmação: "a capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional" (Almeida, 1994, p. 28 apud FONTOURA E GUIMARÃES, 2002; MELLO,2000). No entanto tal afirmação toma um novo contexto no dia 15 de junho de 2008, dia em que a capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro e registrada como Bem Cultural de Natureza Imaterial.
Segundo Falcão (2001 p.59) a capoeira é uma construção social que extrapola conotações específicas que tenham acomodá-la em dimensões fechadas (só esporte, só luta, só dança, só folclore, etc.), dentro do contexto atual, a capoeira pode ser vista como um misto de jogo, arte, luta, dança e folclore que vem, sistematicamente, se incorporando a lógica desportiva, a partir de várias iniciativas de cunho oficial e privado.
Diante da literatura citada é possível constatar que o capoeira tem como principal característica o desenvolvimento de um vasto repertório psicomotor e das qualidades físicas básicas, que se torna evidente no momento do jogo (roda), o capoeira expressa as possibilidade motoras do corpo humano, onde o mesmo deixa de ser utilizado para a auto-defesa e torna-se produtor da cultura corporal de movimento. Podendo ser utilizado como ferramenta pedagógica para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem no âmbito da educação física escolar.
E assim vira objeto de estudo que possibilite e justifique tal pratica nas aulas de educação física escolar. Contudo, é necessário o desenvolvimento técnico-científico no âmbito da Educação Física e de outras áreas para atingir tais metas. As qualidades físicas agilidade, resistência e descontração devem ser desenvolvidas no praticante de capoeira, não só por melhorar o rendimento e performance no jogo-luta, mas também por serem essenciais ao desenvolvimento do condicionamento físico geral.
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